O príncipe e a princesa de uma mente toda errada.

Ele era um roqueiro, daqueles modelos mais antiguinhos. Sempre andava com camisa de banda e amava tatuagens. Achava ridículo mulheres “gostosas”, que malhavam pra ficar cheias de carne, e também achava ridículo homens que malhavam para ficarem bombados. Aliás, achava ridículo todo esse pessoal que se emperiquitava, como se isso fosse fazê-los melhores. Jogava muito vídeo-game. E com as meninas tinha fama de grosso, na verdade, ele não tinha mesmo paciência pra futilidade. Tinha alguns amigos, algumas amigas, mas todos parecidos com ele, mesmos gostos, mesmas opiniões, e não costumava sair muito dali.

Ela era uma roqueira, um modelo antigo meio moderno. Sempre andava com camisa de banda e amava tatuagens. Não malhava, e não estava nem aí se estava bonita ou não, na maioria das vezes passava um lápis no olho, vestia calça, tênis e uma camiseta, e saía, voando baixo no seu skate. Ria com os amigos, geralmente das meninas que se emperiquitavam e malhavam a semana inteira pra tentar ser ao menos amigas deles, enquanto ela estava ali, toda desleixada e com amizades eternas, e também dos meninos que pareciam ter balões em baixo das roupas de tantos músculos e eram a pura chatice. Com os meninos tinha fama de que achava todo garoto idiota, os que não eram, eram irmãos.

 E numa pista de skate os caminhos dos dois se cruzaram. Pra ele, ela era uma menina que compensaria conversar por não ser fútil e parecer gostar das mesmas coisas que ele, quem sabe viraria uma amiga. Pra ela, ele era um cara que compensaria conversar por não ser um tarado que acha que o tamanho dos músculos dele diriam quem ele é e parecer gostar das mesmas coisas que ela, provavelmente, mais um irmão.

Tinham os mesmos amigos mesmo então, todos se juntaram nos bancos por lá e conversaram. Comeram, beberam, cantaram. Alguns iam embora, outros iam ficando. Até que os dois se viram sozinho perdidos naquela conversa agradável. E foi no final da gargalhada, quando se viram sozinhos, que sentiram o coração bater mais rápido. Ele não seria só um irmão. Ela não seria só uma amiga.

Um beijo. Um pedido de namoro. Um sim. Dois sorrisos.

No outro dia, ninguém conseguia acreditar, o grosso namorando, quem diria. Os amigos zoaram, as meninas ficaram de boca aberta. E ele ficou feliz o dia inteiro. Os amigos dela também zoaram, e os meninos se perguntavam se era alguém humano pra ela não achar um idiota. E ela ficou feliz o dia inteiro.

Os dois eram completamente felizes juntos. Pra ele era única. Era diferente de todas as outras meninas, não só por não ligar pra coisas fúteis, mas por que pra ele, ela era a mais linda, mais legal, mais sexy, mais perfeita de todo universo.

Ele não olhava para o lado, na verdade, continuava um grosso, achando todo mundo fútil. Agora os dois saíam pra rir das meninas e dos rapazes. Mas com ela não, ela era a princesa dele. Ela era a única com quem ele nunca seria grosso. Ela era a mulher dos sonhos dele, ele não queria mais ninguém, não desejava mais ninguém, não precisava de mais ninguém.

Pra ela, ele era único. Era diferente de todos os outros caras, por saber que o que ele fala, faz e pensa que vai dizer o que ele é, e não os músculos de seu corpo, por ele não ser um tarado louco por pedaços de carne e saber valorizar o interior de uma garota, mas não só por isso, porque ele era um príncipe, porque ele a amava sem importar com o que mais ninguém dissesse, a amava do jeito que ela era, e só amava a ela, só desejava ela, não olhava pro lado, mesmo ela não sendo a mais bonita das moças, era assim que ele a via, e era só dela que ele precisava, ela o amava por ele ser quem ele era sem se importar com ninguém, e ela amava o que ele era. Ela não o achava um idiota, o achava legal, lindo, perfeito, e não queria mais ninguém, ele dava todo o amor que ela precisava, e tudo o que ela queria era esse amor e vê-lo feliz.

Eu, sentada do outro lado da pista de skate, sempre observava os dois. Eram mesmo feitos um para o outro. E eu pensava: Quando um grosso desses apareceria na minha vida?